A Camila Goytacaz, uma das nossas mães aqui no Aprontando, escreveu o artigo abaixo sobre o "brincar" para o site www.maternidadeconsciente.com.br.
Dê uma olhada! Recomendamos!!!
Quem sabe brincar?
Chegou o Dia das Crianças. Vejo muita
gente correndo para comprar o presente, escolhendo o brinquedo mais
incrível, e me pergunto: quem vai brincar com estas crianças? Digo isso
porque meu filho Pedro Luis, hoje com 3 anos, me pegou de surpresa
quando começou a me chamar para brincar. Eu sabia muito bem trocar
fraldas, dar banho e fazer papinhas. Mas brincar? Sinceramente, não me
lembrava como era e nunca tinha pensado que isso seria minha função, em
seu processo de desenvolvimento. Imaginar uma floresta, entrar na toca,
ver tudo se transformar e deixar que ele conduzisse aquilo, afinal era a
imaginação dele que estava tão fértil, foi um grande aprendizado para
mim. Assumo, eu não me recordava do que realmente era brincar. E nem de
como é bom brincar.
Existe sim um momento em que eles gostam
e talvez até precisem brincar sozinhos, mas convidar à brincadeira o
adulto em que confiam é uma grande prova de amor, que fala muito sobre a
interação humana, e deve ser valorizada. Nas brincadeiras, os
sentimentos, os aprendizados, a vida da criança se expressa. Não brincar
com seu filho é, de certa forma, não ouvir o que ele tem a dizer.
Ter uma criança em casa é permitir que a
fantasia chegue, é convidá-la a entrar. É reconhecer que, como adultos,
já não sabemos mais o que é divertido na brincadeira, e então deixar
que as crianças proponham e conduzam a atividade.
Depois que percebi a minha dificuldade
em brincar, fiquei mais atenta ao comportamento dos outros. Vi que pouca
gente de fato senta no chão para brincar com a criança. Sugerem que ela
brinque enquanto cuidarão de suas coisas de adulto. Quando finalmente
brincam juntos, tendem a dar ordens do que deve ser feito: encaixe esta
peça aqui, coloque a tampa naquela panelinha, mexa assim ou assado.
Isso não é brincar. Não da forma como é
preciso, não com liberdade. As crianças precisam exercitar e deixar
fluir tudo o que suas mentes infinitas estão enxergando. Outro dia
presenciei esta cena: o adulto dizendo assim para meu filho: está
errado, este é o limite do desenho, o contorno do esquilo, você não deve
pintar fora destas linhas, deve pintar o esquilo, entende? E ele
responde, um tanto indignado: mas isso não é um esquilo, é um dragão,
você não está vendo o dragão?
Enxergar um dragão onde a figura é
esquilo é saber brincar. Passear pela selva e conversar com os bichos
que se aproximam, sentir a cachoeira no chuveiro, chamá-lo de jumento
quando ele resolveu ser este bicho, mesmo que pareça um pouco estranho
aos ouvidos, deixar que a comida seja de chocolate com milho ou que os
blocos formem uma torre cuja base é muito menor do que o topo e que
certamente despencará, isso é brincar. Fugir da lógica e ignorar a
razão. Isso é brincar.
Não sabemos mais fazer isso. A gente
esqueceu. Mas eles sabem. E querem nos ensinar. Temos apenas que deixar.
Deixar que eles nos conduzam pelo lindo mundo da fantasia, onde leões
urgem, bonecos sem cabeça dançam, onde o dia amanhece várias vezes sem
que a noite nunca chegue.
Brincar é reconhecer que nós não estamos
(ou, ao menos, não deveríamos estar) no controle da vida das crianças.
Somos seus pais e cuidadores, estamos aqui para zelar por eles, mas a
verdade é que crescem e vivem independentemente da gente, além da gente,
aliás, muito além da gente. São indivíduos providos de grande
sabedoria, e apenas se a gente permitir, terão a generosidade de
compartilhar conosco toda a riqueza que trazem em si.
O que desejo para o Dia das Crianças de
todos nós é um dia de menos brinquedos e mais brincadeiras. De menos
presentes e mais presença. De menos dar e mais receber. Desejo que, ao
menos neste dia, os adultos também consigam ser, de novo e ainda que
breve, crianças que brincam.
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