O Aprontando Uma mudou,

agora se chama Casa do Brincar.

8 de jul. de 2010

Desmame natural, por Camila Goytacaz

A AMAMENTAÇÃO

Desde que comecei a amamentar, ou seja, há um ano e oito meses atrás, ouvi falar algumas (poucas) vezes sobre desmame natural. Mas sinceramente, achava que isso era uma lenda. Como assim meu bebê, super guloso, que adora peito, que eu tenho que controlar para não mamar o tempo todo, como este bebê simplesmente não vai querer mais? Pois agora sei que é isso mesmo. Simplesmente não vai querer mais.

Hoje claramente percebo que não era eu quem estava “deixando” ele mamar e sim ele que estava “me deixando” amamentá-lo. Pedro Luis mamou loucamente desde seu primeiro contato com o peito. Na maternidade, as enfermeiras ficavam espantadas com seu apetite voraz. Às vezes machucava o braço do pai, deixando roxo de tanto sugar, enquanto esperava pelo peito. A gente dizia que ele mamava até nos sonhos. Nunca dei nenhum leite que não fosse o meu. Como meu leite também vinha muito, era um prazer e às vezes um alívio amamentá-lo.

Nos primeiros seis meses era só leite materno e à vontade. Depois, Pedro intercalava comidas e mamadas. Com o tempo foi diminuindo as mamadas, descobrindo outras coisas legais. Passou praticamente ileso pelas tais doenças inevitáveis do primeiro ano.

No inicio eu tinha vergonha, na hora de amamentar ia para um canto mais discreto. Depois aquilo foi se tornando tão natural que Pedro mamava em qualquer circunstância e em qualquer lugar, sem nenhum constrangimento. E foi aí que comecei a sentir a pressão.”Mas ele mama ainda? Já andando e no peito? Até quando você vai deixar?” ou o terrível “tira logo senão depois fica muito pior”.

Mas eu curtia. Além de tudo, amamentar é prático, não precisa levar nada e a criança fica super bem, em viagens e em qualquer lugar. Não dei chupeta nem mamadeira e não fizeram a menor falta.

Pedro sempre dormiu comigo e com o pai dele na nossa cama de casal, quando não a noite toda, a maior parte da noite, pelo menos. E sempre mamou à vontade. Eu chamava de “self service”, pois amamentava praticamente dormindo e de manhã às vezes nem me lembrava de quantas mamadas haviam sido, exatamente. Realmente agora me lembrando bem, teve uma época, por volta de um ano e três meses, em que eu estava cansada, me sentindo sugada e presa (ficava irritada quando ele chupetava no seio). Depois passou e comecei a curtir de novo os momentos das mamadas.

O dilema começou a ficar mais frequente. Comecei a achar que tinha logo que  determinar a forma e quando ele seria desmamado. Fui me informar e foi quando aprendi sobre o desmame natural. Mas então eu não tinha que tomar as rédeas da situação? Me atormentei com esta questão durante um tempo.

O DESMAME

Como não achava nem o jeito certo e nem o momento de desmamar, além de adorar dar mamá, desencanei de tentar o desmame. Resolvi que iria seguir até ele completar dois anos, pelo menos, assim garantia mais proteção para meu pequeno, agora que ele vai à escola.

E foi quando eu realmente parei de me preocupar em tirar o peito, que aconteceu. Um dia, no inicio da tarde, Pedro não quis mamar. Ele apresentava febre e um incômodo na boca. Achávamos que era dente. Acabou que era estomatite, quando algumas aftas aparecem de uma vez na boquinha do nenê, super chato. Por conta disso, ele não quis mamar nem durante a noite.

Nas primeiras 24 horas sem mamar, só queria ficar abraçadinho comigo. Queria o aconchego, mas não queria mamar. No inicio eu fiquei triste, queria que ele mamasse, até porque não ele estava incomodado, não estava conseguindo comer nada e eu sentia que tinha fome. Mas depois vi que ele realmente não queria mamar. Eu perguntava e oferecia mamazinho, e ele dizia não. Ficava encostado no peito, com a mãozinha no peito, mas sem mamar, só fazendo carinho. Ele queria o aconchego, mas não queria beber o leitinho. Eu tirava o leite e oferecia, e ele nada. Daí o leite foi diminuindo.

Depois de alguns dias, ele se recuperou totalmente. Neste momento, achei que fosse retomar às mamadas, afinal agora já dava para aproveitar este prazer, certo? Errado. Para ele, por algum motivo, ele não precisava mais mamar. Ele não pediu e eu não ofereci. Depois de alguns dias, no banho (estávamos os dois no chuveiro) e ele olhou bem para o peito e disse: mamá. Daí eu falei: o mamá acabou. Ele entendeu. Ele fez cara que entendeu, deu um beijo no peito e fez um carinho. Foi lindo. Comecei a chorar absurdamente no banho com ele. Foi uma grande emoção que vivemos juntos pois sinto que nós nos comunicamos mesmo sem palavras nesta hora. É como se ele tivesse me dizendo que se encerrou, e eu dizendo a mesma coisa. E tudo com muito amor e muita gratidão.

Pedro foi muito sábio e tranquilo durante todo o processo, foi lindo. Ele que conduziu. O desmame foi tão assim que nem deu pra eu planejar nada, nem sabia que era aquela a última mamada, simplesmente rolou. Incrível.

Já faz duas semanas que ele não mama. Estamos muito conectados e amorosos, a gente se abraça, ele acaricia muito o peito e dorme encostado, ajeita a bochecha no meu seio e pede para eu cantar. Aprendemos outros jeitos de fazer dormir. Estamos in Love.

DAR PEITO NÃO ESTÁ NA MODA?

Cada vez mais vejo que as mulheres estão desconectadas da importância e principalmente, do quanto é profunda a relação mãe e filho no aleitamento, e o quanto isso é importante para ele, hoje e no futuro. É triste afirmar isso, mas observo que quanto mais informadas e com mais condição social, menos engajadas em oferecer exclusivamente leite materno e seguir amamentando até os dois anos de idade estão as mulheres. É cada vez mais raro um bebê grande que ainda mama no peito As razões são práticas e mais atreladas ao beneficio e conveniência da mãe do que a necessidade do bebê. A mãe se sentia presa ou queria dormir a noite toda. Ou quando é focado no bebê, é algo relacionado à alimentação (como fome ou não-saciedade).

Neste caso, basta oferecer algo. Uma fruta, uma bolachinha, não tem por que esperar que ele mate a fome com peito, se já é grande. Aprendi muito neste processo. Sempre que eu tenho uma oportunidade, seja visitando uma conhecida que teve bebê ou parabenizando alguém que soube da gestação, já falo logo: dê peito!.Tão simples e tão importante.

Hoje meu filho não mama mais, mas conversa comigo carinhosamente sobre isso com as poucas palavras que domina e diz “mamá mamãe cabou”. Abre minha blusa e manda beijo para o peito. Eu entendo o que ele diz e confesso sentir uma certa saudade, sabendo que esta fase passou, que nós dois fomos muito felizes e muito completos nela. Sou muito grata às pessoas que me ensinaram tudo isso (porque eu também não sabia, achava que dar peito era só um detalhe, bem mais banal e bem menos fundamental do que verdadeiramente é). Obrigada à Bela por ter me mostrado que é uma escolha profundamente impactante em nossas vidas.

Eu aprendi que temos que confiar, pois o bebê sabe a hora para mamar e a hora para parar de mamar também, e também sabe muitas outras coisas, porque sente tudo!

Camila Goytacaz
Jornalista, empresária, escritora e praticante de Iyengar Yoga. Papel mais importante: mãe do Pedro Luis. Com o nascimento do meu filho, passei a ler e aprender sobre maternidade e seu complexo e lindo universo. As descobertas me inspiraram a escrever sobre as experiências que vivenciamos juntos, na intenção de ser cada vez mais uma mãe conectada, sensitiva, com menos verdades absolutas e com mais espaço para perguntas e aprendizados contínuos, que respeita e ama a criança em toda a sua plenitude.

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